SÃO TOMÉ – DIA 3
24 dezembro 2014
Véspera de Natal. Despertar às
07h00 porque o dia vai ser longo.
Depois de carregarmos o Suzuki
Jimny, com os presentes, saímos em direção a norte, via estrada do aeroporto.
Primeira paragem na Roça
Agostinho Neto, antiga Rio D’Ouro, que já foi a maior e mais importante das
explorações de cacau e café. Foi fundada em 1865, chegando a albergar mais de
3.000 pessoas. Demarca-se na paisagem o imponente hospital, que nos seus tempos
de funcionamento, contava com 182 camas. Infelizmente, atualmente é um local
degradado. Mas hoje, algumas dezenas de crianças tiveram um dia diferente. Os
presentes choveram, e a alegria da miudagem foi indescritível.
Num pequeno terreno surge um
improvisado campo de futebol, de terra batida, onde alguns miúdos disputavam
renhidamente uma partida, com uma bola feita de fita-cola, plásticos e cordas.
Saí do Suzuki uma bola de “cautchu” e a loucura foi total.
Lamentavelmente passámos por um
funeral de um jovem de 17 anos, que foi mordido pela cobra preta, possuidora de
um veneno potente. Dizem os locais que a cobra só pica a pessoas a quem tenha
sido lançado mau olhado por feitiçaria. As crenças e os mitos continuam bem
vivos em África.
Recentemente, esta cobra foi
renomeada de Naja Malanoleuca, para Naja Pereoescobari, por ter sido confirmado
ser uma espécie endémica em São Tomé, e não uma espécie introduzida pelos
portugueses, aquando da descoberta da ilha. O novo nome foi inspirado no
navegador português Pedro Escobar. Sendo espécie endémica, passou a estar
protegida, embora os locais continuem a sua caça, quer pela sua perigosidade,
quer para iguaria gastronómica local ou pela sua banha, que os locais guardam
para tratar maleitas, como feridas ou dores reumáticas. Até temos no nosso
vocabulário a expressão “banha da cobra”, hoje com outro sentido menos
terapêutico.
Paragem na Lagoa Azul, uma
pequena e lindíssima baía, para um refrescante banho, que, sendo cedo, o calor
já apertava. O azul da água e a sua transparência é fenomenal.
Em pequenas localidades e sempre
que surgiam crianças, havia paragem para entrega de ofertas. Apenas um lápis,
deixa uma criança com um sorriso maravilhoso. A estrada acaba em Santa
Catarina, terra de pescadores.
Para explorar spots fotográficos
em altitude, apontámos o Jimny à serra, e atacámos a picada. Logo no início,
uma cobra de 2 metros atravessava vagarosamente a estrada. Felizmente não era a
preta. Saímos do carro para apressá-la a entrar na floresta, e lá continuámos a
nossa subida, num trilho que cada vez mais estava engolido pela vegetação. Muito
a custo, o Jimny ia galgando metros. Houve ainda mais paragens para desviar
pedras e troncos que se atravessavam no caminho. Até que a selva tomou conta da
estrada e já não havia passagem possível.
Regresso à cidade, com muitas interrupções
para fotografia, e paragem obrigatória em Neves, para petiscar a santola, que
são apenas caranguejos gigantes. Estavam deliciosos, picantes, e o molho no seu
interior estava fantástico. Contudo, um dos viajantes apenas comeu banana
frita, também ela deliciosa, porque pegar no animal e descascá-lo está fora de
questão. Adivinhem quem foi.
Como em muitos países africanos,
também aqui os bebés são transportados às costas das mães, e não é que se
portam bem? Mesmo com as mães a trabalhar, o bebé continua com essa essa
ligação próxima, que pelos vistos resulta em bom comportamento.
Nas praias ao final da tarde,
repousam as pirogas dos pescadores, quase todas elas feitas de um tronco único,
escavado até ter forma de barco.
Na estrada vamo-nos cruzando com
homens a caminho de casa, regressando do trabalho. Carregam sacos em
“bicicletas” feitas de pedaços de madeira, mostrando bem o que é o “engenho”
africano, na resolução de problemas.
A previsão era jantarmos em casa
da Dona Téte, um misto de casa particular e restaurante, mas estava fechado.
Amanhã, dia de Natal, continuamos com a distribuição de presentes.
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